Contribuição Voluntária
A BÊNÇÃO DE PODER CONTRIBUIR
O assunto relacionado à contribuição para a obra de Deus, nem
sempre tem sido bem compreendido. Enquanto uns assumem uma
postura quase legalista em defesa do dízimo, transformando-o
numa questão meramente matemática, outros se tornam relapsos e
negligentes quanto ao dever e o privilégio de poder contribuir.
A bíblia apresenta as seguintes modalidades de contribuição
*Primícias apresentação antecipada ao Senhor, dos primeiros
frutos da colheita (Dt.26.2).
*Dízimos contribuição referente a décima parte da produção dos
frutos da terra, dos rebanhos e das rendas em geral (Gn.28.20-22;
Lv.27.30-34).
*Ofertas Contribuições voluntárias(grifo meu) e esporádicas, de
qualquer espécie, para fins específicos (Ed.2.68-69).
*Esmolas doações destinadas ao alívio imediato de carências de
pessoas necessitadas (At.10.1-2).
Falar sobre dinheiro na Igreja hoje, tornou-se questão delicada.
Isto, em função dos desvirtuamentos verificados em determinados
grupos religiosos, onde líderes inescrupulosos têm manipulado
ensinos bíblicos referentes à contribuição, utilizando-os como
mecanismos para exploração do povo e o enriquecimento pessoal.
Entretanto, tais desvios, tão condenáveis, não podem nos indispor a
tratar de tema tão relevante e, acima de tudo, bíblico.
Poder contribuir é um privilégio, é bênção. Como disse Jesus,
“mais bem aventurado é dar que receber”(At.20.35).
Partindo-se dos pontos acima podemos destacar, dentre outras, as
seguintes lições:
I O ATO DE CONTRIBUIR É UMA EXPRESSÃO DE
RECONHECIMENTO DAS BÊNÇÃOS RECEBIDAS
Deuteronômio 26.1-11 descreve o belo e significativo ritual
litúrgico das primícias. Ao tomar posse da terra prometida, o povo
deveria observar esse ritual, que consistia na apresentação perante
o sacerdote, de um cesto contendo uma amostra dos primeiros
frutos produzidos na terra. O ritual deveria incluir a declaração de
uma fórmula litúrgica (vv 5-10) através da qual eles recordariam a
origem do povo, a servidão no Egito, o êxodo e a conquista da
Terra Prometida.
A apresentação dessas ofertas ao Senhor, seria uma expressão de
reconhecimento de que a bênção de estar na “Terra que mana leite e
mel”, plantando e colhendo, seria uma bênção concedida por Deus.
No mundo altamente tecnologizado de hoje, perdeu-se de vista esta
compreensão. Para os que vivem a realidade urbana, é simples ir ao
mercado e escolher qualquer um dos frutos da terra ali encontrados,
mesmo desconhecendo o mistério e o milagre envolvidos na
produção daqueles frutos. Por outro lado, o que se passa na
mentalidade dos que trabalham a terra é que o milagre da produção se
dá tão somente às custas de fertilizantes, irrigação e agrotóxicos. É
evidente que muitas das técnicas e recursos aplicados à agricultura
hoje são indispensáveis; podemos até dizer que são bênçãos.
Entretanto, precisamos resgatar a compreensão de que Deus está por
trás de todo o processo, como sabiamente declara o salmista no salmo
65.9-13.
O texto básico focaliza as estreita vinculação entre a bênção do
Senhor e a produção, pelo fato de retratar as experiências de uma
comunidade que se dedicava à vida agro-pastoril. Mas a lição é que
toda sorte de bênção procede do Senhor, como diz Tiago: “toda boa
dádiva e todo Dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes...”
(Tg.1.17).
Portanto, ao contribuir para a obra de Deus o crente deve fazê-lo
como demonstração de um profundo reconhecimento de que tudo que
ele recebe e possui é bênção concedida pelo Senhor. Quando o povo
fez ofertas para a construção do templo, Davi orou dizendo: “Porque
tudo vem de ti e das tuas mãos to damos”. (1 Cr.29.14).
II O ATO DE CONTRIBUIR É UMA EXPRESSÃO DE ADORAÇÃO A DEUS
Os versículos 10 e 11 indicam que ao apresentar ao Senhor as
primícias da terra, o povo deveria ter em mente que tal ato era uma
expressão de adoração: “Então as porás perante o Senhor teu Deus,
e te prostrarás perante Ele”. O texto relaciona o ato de contribuir, à
pessoa do sacerdote, ao “lugar que o Senhor teu Deus escolher para
ali fazer habitar o Seu nome” (isto é, o templo), ao altar e ao próprio
Senhor Deus. Além disso, tudo deveria ser realizado de coração e
com alegria. Como orienta Paulo em 2 Co.9.7 “cada um contribua
segundo tiver proposto no coração: não com tristeza ou por
necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria”.
A contribuição para a obra de Deus não pode ser confundida com
um imposto ou as taxas que somos obrigados a pagar. Houve
ocasiões em Israel que o dízimo teve tal concepção mas esse não é o
seu significado original (Dt.14.23). A contribuição, seja de que
modalidade for, deve ser feita de forma voluntária, com alegria e
devoção a Deus. O ato de ofertar ao Senhor torna-se inútil quando
não existem estas motivações (Mt.5.23-24).
III O ATO DE CONTRIBUIR É UMA DEMONSTRAÇÃO DE COMPROMISSO SOCIAL
Os recursos que Deus nos dá não podem ser retidos de forma
egoísta. Eles devem Ter também uma aplicação social e não apenas
pessoal. Devem ser partilhados. Através das diversas modalidades
de contribuição já apresentadas, somos desafiados a partilhar o que
Deus nos tem dado. Isto se chama compromisso. A contribuição em
Israel, especialmente o dízimo, se destinava à atender a três
necessidades básicas:
!Manutenção do culto cabia aos levitas a responsabilidade quanto
à direção dos serviços sagrados (Nm. 18.21). As contribuições
eram levadas perante o sacerdote e destinadas ao seu suprimento,
bem como dos levitas, os quais “tinham direito aos dízimos dos
dízimos, às primícias da terra e algumas partes do sacrifício”
(Wilson C. Ferreira em Esboço de Teologia Bíblica, LPC,
Campinas, 1985). As despesas decorrentes da manutenção do! culto em Israel eram custeadas com esses recursos trazidos pelo
povo.
!
!Assistência aos necessitados a cada três anos, em vez de serem
levados ao Santuário central, os dízimos ficavam retidos nas vilas
para auxílio aos pobres (Dt.14:28-29; 26.12-15).
Será que a porcentagem das arrecadações de nossas igrejas,
destinada à assistência social, tem sido satisfatória? Cabe a cada
igreja refletir seriamente sobre esta questão.
Segundo J.A. Thompson, “os interesses do pobre estão entrelaçados
com os interesses do próprio Deus (Dt. 24.15; Pv.22.23). Deus
prefere que aqueles que lhe trazem ofertas cuidem ao mesmo tempo
do pobre (Is.13.17; Os. 6.6; Mt.25.40; 1 Jo.4.20). A igreja do N.T.
dispensou grande atenção para com os necessitados (At.4.32-35)”.
!Fortalecimento da vida comunitária percebe-se também no texto
que parte das contribuições era usufruída por toda a comunidade
numa grande festa de confraternização , em que todos comiam e
bebiam juntos (Dt.14.22-29; 26.11).
IV O ATO DE CONTRIBUIR É UM DESAFIO À FIDELIDADE AO SENHOR
O israelita tinha a preocupação de não reter o que pertencia ao
Senhor. “Tirei o que é consagrado de minha casa...segundo todos os
teus mandamentos que me tens ordenado: nada transgredi dos teus
mandamentos, nem deles me esqueci”(26.13).
Infelizmente, nem todos podem dizer isto, pois muitos têm falhado
no teste da fidelidade. Numa outra época da história de Israel, a
infidelidade do povo quanto ao dever de contribuir foi duramente
condenada (Ml.3.7-8).
É bem verdade que nem todos os que contribuem são fiéis. Porém,
todos aqueles que são fiéis devem evidenciar sua fidelidade também
através da contribuição para a obra de Deus. Mas como diz o Rev.
Caio Fábio, esta é uma graça que poucos desejam.
A fidelidade demonstrada no ato de contribuir é medida não por uma
máquina de calcular, mas pelo coração. O coração sabe quanto é
preciso dar, quanto é possível dar e como se deve dar (2 Co. 8.12;
V O ATO DE CONTRIBUIR É UMA DEMONSTRAÇÃO DE CONFIANÇA NA RENOVAÇÃO DA BÊNÇÃO DO SENHOR
Quando o crente contribui voluntariamente e com alegria, conforme
as suas posses “como expressão de generosidade, e não de avareza”
(2 Co.9.5), ele o faz na certeza de que aquilo não lhe fará falta. Pelo
contrário, atrairá sobre si as bênçãos do Senhor. Dt. 20.15 encerra o
tema da contribuição com uma expressão de confiança nas bênçãos
que o Senhor haverá de derramar, especialmente sobre os fiéis. Aliás,
esta é a promessa apresentada na palavra de Deus (Pv. 3.9,10;
Ml.3.10-12; 2 Co.9.10-11).
Deus conhece as intenções do coração e sabe se há em nós e
fidelidade quando contribuímos.